Os meteorologistas já previam: chuvas abaixo da média no sul do Brasil devido à intensificação do fenômeno que resfria as águas do Pacífico Equatorial próximas à América do Sul, mais conhecido como La Niña.
Só não se previa que as chuvas abaixo da média atingiriam toda a região sul, sendo que no início falava-se apenas do sul do RS.
Seja como for, o fato é que está faltando água! Do RS até o PR e centro-sul do MS.
A produtividade é resultado da interação de aprox. 52 fatores, sendo que pluviosidade é apenas 1 deles. E o pior: incontrolável pelo homem. Exceto, é claro, no caso de agricultura irrigada, que não é a realidade da maioria das áreas produtoras de grãos no sul do Brasil e no MT, regiões que englobam a maior parte da área produtiva atual.
Dentre esses 52 fatores, a fertilidade do solo e a nutrição das plantas são um dos poucos que conseguimos controlar, através de correções, adubações, suplementações, pulverizações, análises, monitoramentos, mapeamentos, sistemas de amostragem etc. Enfim, existe uma vasta gama de técnicas e práticas disponíveis para se otimizar cada vez mais a utilização de insumos com vistas a nutrir as culturas da melhor maneira possível, para que se possam obter não apenas altas produtividades, mas também excelentes resultados financeiros, o que, como se sabe, nem sempre se alcança com a máxima produtividade.
Aliás, falar em produtividade é, de certa forma, temerário, pois vimos há pouco que essa palavra é formada pela interação de uma série de fatores, dos quais poucos conseguimos controlar.
A agricultura é uma atividade de risco e deve ser encarada como tal, ou seja, sempre com probabilidades e nunca com certezas. O manejo de risco é imprescindível nessa atividade, da mesma forma ou até mais do que no mercado de capitais, onde essa prática é altamente difundida e aceita pelos traders e investidores em qualquer parte do mundo.
Pois bem, na agricultura não deve ser diferente. Quando falamos em clima, estamos tratando de um fator de extrema variabilidade no tempo e no espaço. Por mais que a meteorologia, ou a agrometerologia, seja desenvolvida, utilizando tecnologia de ponta, com bancos de dados de centenas de anos, contando com profissionais altamente qualificados e instituições que empregam uma quantia imensa de capital para estudar, entender, interpretar e “modelar” o clima, ainda assim estamos sujeitos a erros e o que é pior, podemos até identificar os fenômenos, mas não podemos impedi-los ou promovê-los.
Portanto, mais uma vez, caímos no manejo de risco. Precisamos preparar nossas culturas para condições adversas! Que, diga-se de passagem, são muito mais comuns do que as favoráveis. Qualquer um sabe disso.
Percebam que, em anos em que as chuvas ocorrem regularmente e em intensidade adequada, até o pior produtor colhe bem. Claro! O sistema fica sob fornecimento “hidropônico” de água. Nesse caso, é só ter nutrientes à disposição e grande parte do trabalho está feita.
Sabemos que Fenótipo = Genótipo + Ambiente. O fenótipo, em nosso caso, é a produtividade, o resultado da equação. O genótipo conta com 50% de influência no fenótipo. Seu manejo é resumido na escolha de materiais genéticos adequados e de alto potencial produtivo. Os outros 50% são fornecidos pelo ambiente, que, como vimos, é afetado por 52 fatores. Dentro do ambiente de produção, excetuando-se a irrigação, o manejo do solo e da nutrição vegetal é um dos mais efetivos meios de se promover um melhor resultado para essa equação.
E é justamente em tempos de La Niña que se despontam os bons produtores. Aqueles que encaram a atividade rural como uma empresa, e tratam seu solo e suas culturas como se fossem o seu parque industrial, que no fundo não deixam de ser.
Esse sucesso não vem do nada. São anos de trabalho com amostragem de solo representativa, análise de solo confiável, método de interpretação coerente, monitoramento da nutrição através de análises foliares periódicas, intervenções com critério e jamais totalmente baseadas no empirismo, e assim por diante.
A irregularidade das chuvas e os freqüentes veranicos são fatais para áreas em que o sistema radicular está confinado nos primeiros centímetros do solo. Isso tem como principais causas:
a) presença de alumínio tóxico abaixo de 10 ou 20 cm;
b) camada compactada no horizonte superficial (até 20 cm), seja pela negligência do manejo de tráfego de máquinas ou pela erosão vertical decorrente da dispersão da argila superficial;
c) concentração da fertilidade nos primeiros 10 cm de profundidade, muito comum em áreas de plantio direto. O fósforo e o nitrogênio, por exemplo, são os nutrientes que mais afetam morfologia de raiz, fazendo com que ela se concentre onde existe alta concentração de qualquer um desses.
O segredo para a resistência à seca todo mundo sabe: aprofundamento do sistema radicular! Claro, palha ajuda? Obviamente que sim. A palha mantém uma estabilidade térmica e reduz a evaporação. Entretanto, palha em excesso também pode ser prejudicial, em função do aporte excessivo de íons K+ na solução após as primeiras chuvas, favorecendo a dispersão da argila e com ela uma série malefícios. É como dizem: até água em excesso faz mal!
Mas não é só isso! A seca não está em função pura e simplesmente da escassez de chuvas. O equilíbrio nutricional conta muito para superar estresses hídricos, pois plantas nutricionalmente equilibradas demandam menos água por kg de matéria seca produzida, bem como por kg de grão produzido. Em outras palavras, a eficiência metabólica de uso da água é maior em plantas de nutrição balanceada, de modo que uma lavoura bem conduzida em termos de fertilidade e nutrição, além de suportar déficits hídricos muito mais intensos, tem potencial de produção muito maior que uma lavoura mal conduzida.
O que pode colocar essa tese por água abaixo é, aliada à escassez hídrica, a ocorrência de temperaturas excessivamente elevadas (acima de 40°C), levando enzimas a se desnaturarem, a fotossíntese líquida a ser reduzida – devido ao aumento da respiração –, os estômatos a se fecharem e o metabolismo a praticamente cessar. Entretanto, ainda assim, plantas bem nutridas podem suportar melhor, uma vez que absorvem ou dissipam o calor mais eficientemente, com mesófilos mais espessos, cutículas mais espessas, velocidade de abertura e fechamento de estômatos maiores, maior quantidade de carotenos etc.
É por isso que digo que o La Niña é excelente para identificar os bons empresários rurais, aqueles que promovem o aprofundamento radicular de suas lavouras e praticam uma nutrição com critério, sem tratar o solo e as plantas como corpos inertes e desprovidos de dinâmica; aqueles que procuram investir mais no que é barato (diagnose e monitoramento) para tentar racionalizar e, principalmente, otimizar o que é caro (insumos).
Quem não gostaria de suspender uma cobertura com KCl com base numa análise foliar apresentando bons teores de K na planta e equilíbrio nutricional pelo Índice de Balanço Nutricional (IBN) do DRIS, e ainda correlacionando com boa saturação de K na CTC do solo? Ou aplicar, no momento correto, um nutriente que esteja em deficiência? A economia, no primeiro caso, e a otimização no segundo, certamente pagariam as análises e ainda sobraria. No primeiro caso se evitaria prejudicar a cultura, possivelmente causando um excesso de K na planta e prejudicando a absorção de Mg e até mesmo Ca.
Temos que ter em mente que os nutrientes possuem uma interação muito estreita entre si, sendo que o excesso de um fatalmente leva à carência de outro, e vice-versa. E o que conta para a produtividade, em grande parte, é o balanço entre eles, o equilíbrio, pois em Biologia não existe meia dose ou dose cheia. Existe, sim, a dose certa, no momento certo, com o produto certo no local correto (Manejo 4C)!
Temos sempre que lembrar que o lucro é o resultado da receita menos o custo (L = R – C). Portanto, a receita para aumentar os lucros é: elevar a relação Receita/Custo. E isso se pode fazer, grosso modo, de duas formas: aumentando a receita e mantendo os custos; ou mantendo a receita e reduzindo os custos.
Bom, o La Niña está aí e a conclusão é: Quem tem raiz, se sairá bem. Quem não tem... bem... tomara que chova.
Saudações a todos e até o próximo post.